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100 dias de governo: oitenta tiros

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O Rio de Janeiro amanheceu chocado com mais um caso de violência policial. Mais de oitenta tiros de fuzil foram disparados por militares do Exército contra o carro de uma família que estava indo a uma festa, em Guadalupe, Zona Norte, na tarde de domingo (07). O músico Evaldo Rosa dos Santos, de 51 anos, foi atingido e morreu na hora. Sua esposa, Luciana Oliveira, o filho do casal de 7 anos, uma sobrinha de 13 e o seu sogro, que também foi alvejado, sobreviveram. Em nota, o Exército afirmou que os militares revidaram “injusta agressão” de criminosos. Não foi encontrada nenhuma arma no carro.

O caso coroa os 100 dias do governo de Wilson Witzel, que apostou na segurança pública como um dos pilares de sua campanha, mas pouco ou nada apresentou de concreto até agora. Tirando a carta branca que deu aos policiais para atirarem “na cabecinha” de criminosos armados com fuzis.

O recente episódio, como sabemos, não é novidade, nem fato isolado. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), entre março e dezembro do ano passado os homicídios por intervenção policial – conhecidos também como auto de resistência – cresceram. De um ano para outro, houve alta de 34%. Enquanto em 2017 foram registradas 944 mortes envolvendo agentes de segurança do Estado, em 2018 o número saltou para 1.273.  A região metropolitana do Rio de Janeiro registrou 772 tiroteios ou disparos de armas de fogo em março de 2019, de acordo com um balanço da Fogo Cruzado, plataforma digital colaborativa que mapeia o uso de armas de fogo em locais públicos. É um aumento de quase 17% na comparação com fevereiro, que teve 662 registros.

A intervenção militar repete mais do mesmo na (in)segurança pública e junto dela o crescimento do fascismo, que exalta a violência e a estupidez. Em um dos casos, Witzel apareceu ao lado do secretário da Polícia Militar para respaldar o que chamou de “uma ação legítima da polícia para combater narcoterroristas”.

É fato que o Rio de Janeiro vive, há anos, uma crise aguda na área da segurança pública. A população se sente frágil, insegura e vulnerável, e não é à toa, já que está desamparada das ferramentas que podem guardar a sua proteção cotidiana. O problema da violência não será resolvido com a aquisição e distribuição de armas a torto e a direito, nem com uso de atiradores de elite. Isso é exatamente o que nós fazemos desde a década de 50, e não vem dando certo como qualquer um pode constatar. Sem quebrar o ciclo simplesmente não há como vencer o problema.

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